“Melodrama”
- Luan Iadelka
- 14 de nov. de 2017
- 6 min de leitura

“Melodrama” é uma verdadeira obra de arte, que chega para mudar nossa percepção sobre a música pop atual!

Trazendo de volta sons e batidas que costumávamos ouvir em músicas pop dos anos 2000, Lorde faz seu triunfante retorno com um dos melhores álbuns, se não o melhor, do ano. “Melodrama” retrata, fazendo analogia com uma festa, os altos e baixos sobre se estar sozinho. Um álbum extremamente pessoal, em que Lorde, em parceria com o incrível compositor, cantor e produtor Jack Antonoff, usou suas próprias experiências dos últimos três anos em que esteve longe dos holofotes, como base para escrevê-lo. É muito coeso no quesito produção e apresentação de seu conceito.
Apesar de muito diferente de seu primeiro trabalho, “Pure Heroine”, que possuía uma pegada mais alternativa do que este, Lorde manteve sua essência, e apesar de “Melodrama” seguir mais a linha dark pop, é possível notar semelhanças nas batidas minimalistas presentes no álbum, fazendo com que a cantora consiga algo notável, se reinventar e manter a qualidade vista anteriormente.

O álbum se inicia com a música que é seu primeiro single, ‘Green Light’, que conta com uma produção muito diferente do que estávamos acostumados da cantora. A música esconde sua letra poderosa e significativa em sua sonoridade extremamente dançante e animada. Em seu refrão, Lorde aguarda pelo sinal verde, para que possa sair de uma determinada situação e se reconstruir. No videoclipe da música, a cantora consegue passar para quem está assistindo, de forma excepcional a emoção e significado que a música carrega, e em seu final, é como se de fato, o sinal verde estivesse enfim, chegado.

‘Sober’ é provavelmente, musicalmente falando, a canção mais diferente do álbum, não que isso seja uma coisa ruim, mas não é algo em que é possível encontrar com facilidade na música pop atual. Sua letra fala sobre ficar bêbado (a) e fazer coisas que você provavelmente vai se arrepender, e então quando a ficha cair se perguntar... “Mas o que vamos fazer quando estivermos sóbrios?”. A letra mostra uma Lorde mais adulta e nos deixa perceber o amadurecimento da cantora, não só como artista, mas como pessoa. Lorde que costumava escrever sobre sua cidade, sobre a vida que ela e seus amigos levavam em uma pacata cidade da Nova Zelândia, agora possuí experiências diferentes que foram o fator principal para a mudança em suas letras, que em “Melodrama” tratam de acontecimentos e cenários muito comuns na adolescência. Em ‘Homemade Dynamite’, Lorde se junta à cantora e compositora sueca Tove Lo para compor um hit pop com refrão chiclete com uma letra falando sobre festar e fazer o que tiver vontade. É provavelmente a música mais comum presente no álbum, possui uma produção bem pop que nos faz dançar com um refrão que gruda na cabeça.

‘The Louvre’ é sem dúvidas uma das melhores do álbum no quesito letra e produção. A música, produzida pelo DJ Flume, Lorde e Antonoff, se inicia com uma vibe rock e vocais baixos e intimistas, que progridem no ritmo em que a música vai mudando e de repente, são adicionados batidas e outras camadas de vocais, acabando de forma excelente com um som de guitarra e um final prologado, que foge um pouco do usual. Em sua letra a artista descreve o momento mágico que é o começo de um relacionamento, aquela fase em que os sentimentos estão à flor da pele e a paixão é tão grande que tudo que se quer é estar junto da pessoa amada. Dona da frase mais criativa do álbum... “Broadcast the boom boom boom boom and make em all dance to it...” que, em seu contexto original, a cantora pede que coloquem megafones em seu peito, para que as batidas de seu coração possam ser transmitidas e faça as pessoas dançarem neste ritmo, o ritmo do amor.

‘Liability’ é provavelmente, a mais tocante e sentimental do álbum. Nesta comovente baladinha que possui apenas piano e vocais, Lorde canta sobre o sentimento de se achar um fardo para as pessoas, e que ninguém vai de fato amá-la por completo, justamente por ela ser “demais” para se aguentar. O que deixa a faixa ainda mais emocionante é o fato de não se tratar apenas de uma música triste de um término de relacionamento, mas sim de algo em que a artista sente em relação a si mesma, denunciando uma possível baixa autoestima, permitindo com que quem está passando por uma situação semelhante, possa facilmente se identificar.

‘Hard Feelings / Loveless’ é a faixa mais comprida do álbum, mas nem é possível notar isso. São duas músicas em uma só, ‘Hard Feelings’ é muito bem produzida e se inicia lenta e vai mudando em seu decorrer, até que são adicionados elementos eletrônicos e batidas fazendo com que a música mude instantaneamente e transporte o ouvinte para uma viagem, é possível sentir a música, literalmente. A letra narra à dificuldade de se terminar um relacionamento e todos os sentimentos difíceis que são sentidos depois, e as memórias que ficam até que a pessoa possa de fato seguir em frente. Como muitas das letras do álbum, essa é intensa e tocante. Em ‘Loveless’ a artista faz uma crítica à sociedade atual, falando sobre como somos uma geração que não valoriza mais o amor e os relacionamentos frios que existem nos dias de hoje. É uma música curta, mas contagiante que quando acaba, deixa um certo gosto de quero mais.

A faixa título, ‘Sober II’ (Melodrama) apesar de ser a segunda parte de ‘Sober’, tem uma sonoridade muito diferente da primeira. Possuí uma vibe meio orquestra e musical se diferenciando um pouco do rumo que o álbum segue. Aqui é quando a festa acaba e a pessoa está olhando para toda a bagunça que ficou na casa, usando dessa metáfora a cantora se refere ao ódio e aos terrores presentes no mundo. ‘Writer In The Dark’ é a canção mais melancólica do álbum, cantada de uma forma que chega a parecer que Lorde está à beira das lágrimas, o piano e o violino também contribuem para a tristeza e emoção que a cantora transmite na faixa. A letra fala que apesar do relacionamento ter acabado, ela sempre vai amar a pessoa, mesmo ele já tendo seguido em frente com outra pessoa, mas que apesar disso, ela sabe que vai achar um jeito de ficar bem sem ele. É possível também perceber que a artista dá pistas, do porque do relacionamento ter acabado, nas frases... “Odiava ouvir meu nome nos lábios de uma multidão” e “aposto que você se arrependeu do dia em que beijou uma compositora no escuro”, dando a entender que a fama da cantora, possa ter sido um dos motivos.

Apesar de parecer apenas uma música animada falando sobre qualquer coisa, ‘Supercut’ possui uma das letras mais tristes e emotivas do “Melodrama”. Repetindo a fórmula de ‘Green Light’, ela esconde a tristeza presente na letra em batidas pop e alegres, com uma produção semelhantes à de outras canções do álbum e camadas de vozes no refrão. Nessa música, Lorde descreve alguns dos momentos que viveu em seu relacionamento e que as memórias de bons tempos passam como uma compilação em sua mente. Também é possível perceber um certo arrependimento da cantora em relação à algumas atitudes que tomou, e como ela queria ter a chance de fazer as coisas de forma diferente.

‘Liability Reprise’ é a continuação direta de ‘Liability’, continuando a narrar à forma como a artista se sente e a levando a uma descoberta em relação a ela mesma, onde percebe que não é quem achou que era. A faixa é curta e é uma interlúdio no álbum, e apesar de ser a segunda parte de ‘Liability’ o piano é deixado de lado e temos uma produção diferente da primeira, com batidas minimalistas e vocais.

A última faixa do álbum, ‘Perfect Places’ é animada e dançante, em seu refrão temos batidas eletrônicas e uma das marcas da cantora, as camadas diferentes de vocais. É o segundo single do álbum e seu videoclipe tem uma fotografia linda e paisagens estonteantes. A letra fala sobre usar drogas e sobre sexo, como uma maneira de fugir da realidade e ir para “lugares perfeitos” para esquecer os problemas, em seu final Lorde questiona... “Mas que porra são lugares perfeitos, afinal?”, nos levando a refletir se de fato eles existam. E é com esse mesmo questionamento que “Melodrama” encerra e a festa criada pela cantora.

Se alguém tinha dúvidas quanto ao talento da jovem em fazer arte através de música, “Melodrama” veio para provar que ela de fato tem, e muito. A espera foi grande, mas valeu a pena, se tornou o álbum feminino mais aclamado pela crítica especializada do ano e merecidamente, Lorde provou que é capaz de inovar até mesmo escrevendo sobre temas já bastante desgastados atualmente, como términos e festas. Se iremos ter que aguardar tanto tempo para ouvir algo novo da cantora, não sabemos, mas se o material for tão bom quanto “Melodrama”, podemos esperar tranquilamente. Lorde ainda tem um longo caminho a percorrer, mas como até mesmo David Bowie acreditava, ela é o futuro da música.
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